Papai Joel, o espanta-crise dos clubes cariocas

Este blog tem apenas duas semanas no ar e entre os poucos posts publicados até então, Joel Santana, ou simplesmente Papai Joel ou, como ele gosta, Joel Prancheta, é assunto aqui pela segunda vez. Mas não mais que nos jornais impressos e sites de esportes. Na semana passada todo dia ele foi matéria, com ou sem manchete, e a cada hora tinha alguma chamada na internet sobre o que ele falou ou não falou, fez ou deixou de fazer. Na terça, liderando uma comitiva do alvinegro foi ao encontro de Nilton Santos, um dos maiores ídolos da história do Botafogo, para lhe levar o troféu de campeão da Taça Guanabara. Na sexta, baixou na Academia Brasileira de Letras para almoçar com os imortais. Depois das homenagens que recebeu, anunciou, emocionado, que vai virar livro.
É impressionante! Até aqui, o Botafogo foi campeão apenas de um turno de um torneio estadual, mas a festa pelo título ainda não terminou, parece até que a Taça Guanabara tem o mesmo valor de uma Taça Libertadores ou de um Campeonato Brasileiro. Bom, que fazer? Só nos resta reconhecer que o homem é muito bom de marketing, talvez mais que no comando de um time de futebol.
Já havia dito aqui que Joel Santana, nessa sua volta ao Botafogo, tem demonstrado muita competência. Em pouquíssimo tempo conseguiu dar alma e um mínimo de organização tática para um plantel limitado tecnicamente e com os brios feridos depois da goleada acachapante sofrida para o Vasco da Gama. Só que isso por si só não faz dele um gênio, um estrategista, um dos grandes técnicos do futebol brasileiro, como vem sendo elogiado. Muito longe disso.
A carreira de Joel Santana como técnico sequer é marcada por grandes títulos. Ganhou quatro vezes o Campeonato Baiano, que todos sabem não ser grande coisa, e seis vezes o Campeonato Carioca, que há muito perdeu seu glamour e valor em termos técnicos. Nessa meia dúzia de títulos cariocas, chama a atenção o fato de ele ter sido campeão pelos quatro grandes clubes do Rio. Mas a Joel falta um grande título de expressão nacional ou internacional, não necessariamente por um clube fora de seu habitat natural, o Rio de Janeiro. Até que em seu currículo consta um título de campeão brasileiro — a Copa João Havelange — e outro da Copa Mercosul, ambos pelo Vasco em 2000. Mas não é bem assim. Essas conquistas deveriam ter sido assinadas por Osvaldo de Oliveira, técnico que efetivamente montou o time campeão. No entanto, já próximo ao final da temporada, Osvaldo se desentendeu com o então manda-chuva do Vasco, Eurico Miranda. Foi nessa circunstância que Joel Santana desembarcou em São Januário. Sua estréia foi na partida final da Copa Mercosul, quando os vascaínos, comandados por Romário e os Juninhos Paulista e Pernambucano, viraram sensacionalmente para cima do Palmeiras, que havia aberto uma vantagem de três gols a zero. Já no Brasileirão, Joel assumiu o Vasco a partir do segundo jogo das semifinais contra o Cruzeiro, confirmando o título em duas partidas contra o São Caetano.
Papai Joel já teve algumas oportunidades para fugir do rótulo de técnico de um estado só. Em 1997, foi contratado pelo Corinthians. Com um desempenho pífio, ficou à frente do time em apenas 13 partidas e foi demitido. Em 2004, assumiu o Internacional e novamente fracassou, sendo dispensado depois de 16 partidas. Em 2008, foi convidado para dirigir a seleção da África do Sul, país anfitrião da próxima Copa do Mundo, neste ano. Foram 27 jogos e apenas 10 vitórias. Sorte que os sulafricanos não precisaram disputar o torneio eliminatório para a copa.
Com mais este fracasso, e cabisbaixo, Joel voltou ao Brasil e ficou de stand-by aguardando um novo convite para retomar a carreira, de preferência vindo de um clube em situação de desespero, com jogadores desmotivados e de qualidade mediana para baixo. É que Papai Joel, nos últimos anos, virou um especialista em recuperar times em situação de crise.
Pensando bem, seus melhores trabalhos no futebol foram aqueles em que chegou como salvador da pátria, todos por clubes cariocas. De prancheta na mão, com muita conversa, usando técnicas informais de motivação e de agregação, adotando esquemas táticos baseados em muita marcação e sempre jogando no erro do adversário, Papai Joel está sendo muito feliz no Botafogo. Repete mais ou menos os trabalhos que desenvolveu em sua passagem pelo Fluminense em 1995 — aonde chegou ao título carioca com um time modestíssimo — e no Flamengo, em 2005 — quando foi responsável pela esplêndida reação que nas últimas nove rodadas do Campeonato Brasileiro evitou o rebaixamento do clube para a Segunda Divisão — e 2007 — ano em que comandou uma arrancada que tirou o time da zona da morte para a zona de classificação para a Libertadores em 2008.
Não sei se Joel Santana irá contratar alguém para escrever seu livro — em respeito à língua portuguesa, tomara até que contrate. Seja quem for o escritor, ele próprio ou um ghost writer, o livro ficaria muito mais interessante se focasse essa sua especialidade de resgatar autoestimas dos grandes clubes cariocas, sempre com umas pitadas de humor que bem caracteriza a figura do bom Joel. Mais do que isso, só enchendo muita lingüiça e contando muita lorota para retratar um técnico mediano do futebol brasileiro.

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